Capítulo 1

- Filho de uma égua! – Alana xingava sozinha o seu professor de cálculo 1, em seu quarto frio, olhando para seu projeto reprovado – É a terceira vez que ele desaprova meus projetos! E o pior é que eu sei o que é isso, é falta de S-E-X-O! Meu Deus será que todos os meus professores desde o ensino médio sofrem desse mal? Não vejo a hora das férias chegarem!
Alana começou a caminhar em seu quarto, se desfazendo de seus sapatos e de sua roupa para que pudesse tomar um banho. Após refrescar-se lhe ocorreu uma idéia que a deixou extasiada de felicidade.
- Claro! Como é que não pensei nisso antes! Quatro anos depois, nós cinco de novo, juntas! Farra, festa, folia! Ahhhhhh, cara, como eu sou inteligente quando eu quero!
[...]

- Quem ela pensa que é pra dizer que minhas roupas parecem uma vaga e ridícula imitação da nova linha da Chanel? – Bárbara andava apressada nas ruas de Vitória, falando sozinha, com uma pasta cheia de papéis, que parecia querer arremessar em qualquer um a qualquer momento – Eu nem gosto da Chanel! – disse e se contrapôs a tempo - Tá, eu gosto! Mas eu não acompanho a moda deles, nem sei as peças da nova coleção! Gosto mais do Valentino, Hugo Boss, Yves Saint Lo....
Bárbara foi impedida de continuar com seu monólogo quando se viu esbarrar em alguém, observou todos os seus desenhos caírem numa imensa poça d’água, adicionada àquela bela rua devido ao forte inverno do Espírito Santo.
- Só faltava essa! Que caR... – Ela parou de falar quando identificou a pessoa na qual havia esbarrado. Um jovem e lindo rapaz, de sorriso, cabelos, nariz e olhos perfeitos e o corpo, Deus, que corpo! – Que calamidade! – Corrigiu a frase a tempo de não assustar o rapaz.
- Desculpe senhorita,não queria causar-lhe tamanho transtorno – o jovem rapaz falava enquanto apanhava os papéis que havia derrubado e parecia haver uma névoa brilhante ao seu redor. Bárbara parecia hipnotizada.
- Er...Não..Não, não se preocupe – Ela engasgava ao falar.
- Bom, eu tenho que ir. Desculpe mais uma vez. Até mais. – Ele foi se afastando, deixando um lindo sorriso solto no ar.
- Até mais... – Bárbara acenava para ele que não mais a via. – Gostoso...

[...]

- Certo! Agora é só adicionar mais 5 mL de malonato de sódio e tudo pr... – Gil se assustou quando percebeu o que havia acontecido. – Ai, meu Deus! - a solução que estava preparando acabara de se transformar numa espécie de vulcão em erupção.
- Muito bem, senhorita. Agora você pode arrumar a bagunça e se retirar. Está dispensada. – o senhor Gregório, assistente de laboratório da universidade, parecia um tanto alterado e zangado.
- Gregório eu poss... – Gil tentava se redimir.
- SENHOR Gregório! – Falou imensamente rude, ajeitando seus óculos com a ponta dos dedos.
- Desculpe senhor Gregório, eu poder... – Ela tentava continuar, mas foi interrompida.
- Sim, você pode limpar a bagunça e ir para casa. – Falou e foi se retirando, mas se virou subitamente quase a tempo de ver a careta que Gil fazia para ele – Ah, e está suspensa por uma semana. – Gil já fazia expressões de quem ia argumentar algo – E não tente me fazer mudar de idéia ou eu posso aumentar a sua advertência. Bom recesso senhorita Morais. – Retirou-se da sala e Gil expressava apenas por gestos a sua revolta. Limpou toda a sua ‘bagunça’ e saiu do laboratório.
- Puta que pariu, filho de uma égua, que merda, que D-I-S-G-R-A-Ç-A!!! – Ao sair da universidade Gil exalou do fundo de seus pulmões todos os palavrões que conseguiu atribuir ao maldito senhor Gregório, se culpando um pouco por dizer tamanhas atrocidades contra a ordem de Deus, fez o sinal da cruz e seguiu andando – SENHOR Gregório?! Fala sério... É perseguição! Só pode ser! Desde o CEFET os assistentes de laboratório infernizavam a minha vida, tinha que ser assim aqui também? Deus, preciso de férias!

[...]

- Idiota, filho de uma mãe, imbecil! – Larissa arremessava a maior quantidade de objetos que podia.
- Calma Larissa – Anderson se desviava aterrorizado de um copo de vidro que estava sendo arremessado em sua direção – A gente pode conversar... Ai... Para! Você é louca? – ele tentava se contorcer de várias maneiras para desviar-se dos pratos, copos e agora facas jogadas contra seu corpo.
- Ok. – Larissa parou quando não havia mais nada em sua frente que pudesse arremessar – O que me incomoda não é você ter me traído! - Ela parecia mais calma, mas ainda assim com uma cara não muito confiável.
- Não?! – Ele perguntou surpreso.
- Cala a boca – ela fez cara de poucos amigos – Não! O que me incomoda é você ter me traído com a vaca da Rebecca! Tinha que ser ela? Logo ela? Podia ser qualquer outra pessoa! – Falou com raiva e não propriamente triste pelo fato de ter sido traída pelo namorado.
- É, podia... Mas foi com ela. – Ele não parecia preocupado com a situação, aparentava até certa hostilidade ao falar.
- Anderson, você é mesmo um idiota! – Larissa falava perplexa com sua reação – Quer saber? Limpa tudo isso aí antes que sua mãe chegue e veja tudo assim... – Foi se encaminhando em direção a porta – O ‘outro Anderson’ era tão melhor que você! – quando ela disse isso percebeu que ele fez menção de falar algo, mas calou-se e ela apenas disse – Adeus, imbecil. – e saiu batendo forte a porta.

[...]

- Doutora Elys, – o doutor e professor Patrick, um simpático odontologista da maior universidade do país, estava de pé, ao lado de Elys, numa iluminada sala do setor médico da USP – qual o diagnóstico do paciente?
- Er... Bom... – ela estava sentada com uma máscara no rosto, um aparelho nas mãos que não conseguiu sequer lembrar o nome. De pé, ao seu lado direito, estava o doutor Patrick, que nunca lhe causara medo como agora, do seu lado esquerdo, estava deitada uma mulher imensamente gorda, com sua também imensa boca aberta. ‘Que dentes horríveis’, ela pensava. Por um momento lhe veio uma memória dos tempos que vivia em Zé Doca, um rapaz chamado Patrick com lábios um tanto avantajados que gostava de sua amiga Alana, lembrou que Larissa sempre dizia que ele era o único menino capaz de beijar Alana e ainda ‘engolir’ seu nariz e testa juntos, não resistiu em saltar um sorriso tímido de canto de boca quando pensou nisso, era engraçado e tosco ao mesmo tempo, riu novamente quando percebeu que a recordação da história lhe ocorreu por associar a enorme boca da senhora deitada ao seu lado com o nome de seu professor. Percebeu que Patrick já parecia um pouco impaciente e se desfez de seus pensamentos, deu um último suspiro nervoso e começou a falar – A paciente apresenta cárie em 3 dentes da região superior e um incisivo em estado irrecuperável.
- E o que você sugere? – o doutor Patrick parecia satisfeito.
- Obturação e extração. – Afirmou quase indagando.
- Tem certeza que o incisivo não pode ser restaurado por uma obturação?
- Sim. – dessa vez afirmou quase negando, mas teve coragem o suficiente para continuar – A gengiva da paciente já foi bastante obstruída, uma obturação resolveria o problema apenas temporariamente, e ainda assim, com perigo de infecção.
- Muito bem, pode começar – o doutor deu um risinho e foi para outro canto da sala.
Elys pareceu satisfeita com a sua atuação. Ajeitou-se para mais perto da paciente e começou a fazer o que devia. Percebeu que o doutor Patrick vez por outra a olhava e tentou não ficar nervosa. Tudo corria aparentemente bem. Agora, Elys tinha em suas mãos um fórceps 150, utilizado para a extração de incisivos, para ela, a parte mais complicada do processo. Começou a ‘puxar’ o dente com o aparelho e talvez por um descuido ou por pura falta de sorte algo não planejado aconteceu. Elys parecia apavorada, mas permanecia em silencio, o professor que agora a olhava diretamente, se aproximou:
- Doutora Elys? O que houve?
Elys agora além de aparentemente apavorada também estava pálida e suando.
- Eu acho que perfurei a gengiva da paciente...
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